...os monstros somos nós - "Freaks (1932)"

Sob a direção de Tod Browning, “Freaks” é um cult clássico de 1932 que abalou a sociedade da época, foi rejeitado, trancafiado e somente após 30 anos, na década de 60, que é posto a mostra no mundo todo em exibições de cinemas sujos e festivais amadores. O motivo de tanta polêmica e rejeição esta na essência da trama, nas críticas e nos personagens atípicos.

“Ela é trapezista e se chama Cleópatra. Ele é um charmoso anão e se chama Hans. O “outro” é um levantador de pesos e se chama Hércules. Cleópatra ama Hércules e é amada por Hans. Este triangulo bizarro de amantes vive sua história trágica debaixo da lona de um circo. Cleópatra tem um amante, Hércules, e é amada pelo anão Hans, que não é correspondido. Ao saber que Hans é herdeiro de uma grande fortuna, a trapezista decide, junto com o amante, montar um golpe, casando-se com ele, envenenando-o e herdando a sua fortuna. Mas o plano é descoberto pelos amigos ” monstrinhos” de Hans e a vingança acontece.”

Esta é a sinopse mais bizarra que já leram? Acreditem, não é só a sinopse que é bizarra. Em “Freaks”, o diretor Tod Browning cria um elenco de pessoas realmente deficientes físicas, as chamadas “aberrações”. Há no máximo cinco atores que não possuem deficiência, o resto do elenco é composto por anões, um homem sem braços nem pernas, microencefálicos, e tudo mais que vocês não conseguem imaginar. A critica do filme é gritante, bem explicita. Tod Browning mostra com clareza o que existia e que ainda hoje, após 75 anos, ainda existe. Exibe a relação entre os “normais” e os “anormais”. Uma relação de preconceito, gozações, ofensas, exclusão social e medo. Os deficientes físicos são encarados como seres que não pediram pra nascer, seres que não têm culpa por serem figuras grotescas. Esta é a parte bonita, mas há o outro lado da realidade, aquela que exclui, discrimina e ri desta camada. Em “Freaks” vemos que as “aberrações grotescas” são os maiores residentes no amor, alegria, prazer, bondade, enquanto os “normais” exibem por dentro da tal “perfeição física” sentimentos primitivos, ganância, ódio, maldade, preconceito.

Esta é a critica do filme que conseguiu marcar a história do cinema através do considerado por nós, bizarro. Belíssimo é a palavra que define o filme, cheio de passagens clássicas, cenas eternas e carisma, principalmente dos “monstrinhos”. Por falar em monstrinhos, quem ainda não acredita que os “monstros” somos nós, então assistam ao filme, é a sensação que todos têm.
“Freaks” é o tipo de filme que todos deviam ter visto, um filme para a sociedade estúpida em que vivemos. Para os cinéfilos, é uma excelente dica para quem gosta de sentir o brilho nos olhos! Logo abaixo há um trecho incrível de uma cena do filme, que marcou o cinema, e que é exibida no recente filme “Os sonhadores”. No trecho é possível ver alguns personagens típicos e atípicos, e ainda sentir o gostinho da trama.