11.12.07

...sobre amigos e palha pequena - Cova Rasa

“Alex (Ewan McGregor), David (Christopher Eccleston) e Juliet (Kerry Fox), que dividem um apartamento, concordam em permitir que Hugo (Keith Allen), um desconhecido, vá morar com eles, mas logo ele aparece morto, vítima de overdose. Entre seus pertences existe uma mala cheia de dinheiro, que faz com que a vida deles seja alterada de forma brutal.”

Nada como servir a mesa para os amigos e após a refeição ter a louça lavada por eles, os amigos. Nada como enterrar o morto rico e dividir sua fortuna entre eles...os amigos. Exagero meu não é mesmo? Amigo lavar a louça do jantar, dinheiro dividido...que piada! Não soa improvável apenas pra mim ou pra você, Danny Boyle também não vê razão nessa ilusão. E é nessa desconfiança que o também diretor de Trainspotting inicia sua vida cineasta. Cova Rasa não mente em identidade. O Boyle que conhecemos hoje é o de sempre. Aquele provocador cheio de birra e repulsa pelo ser humano, exibidor enojado pelos seus extremos e apreciador decadente de suas hipocrisias. É o que vemos nesse seu primeiro trabalho estrelado por Ewan McGregor, Kerry Fox, Christopher eccleston. Todos vivendo personagens de personalidades (Boyle adora mostrar isso). Talvez não teria sido um filme eficaz sem a direção dinâmica e versátil em gêneros. É incrível a facilidade que Boyle tem em divertir, estilizar dramas, perturbar, chocar, ironizar e finalizar em diversão. Dessa forma que Cova Rasa se desenvolve, desordenado em gênero e convincente em resultado. A premissa que parecia se estender em confusões clichês com alto toque de descontração e humor vai aos poucos e moderadamente se mostrando em imprevisíveis evoluções. Fazer pelo dinheiro. Matar pelo feito. Assumir o erro. Proteger o dinheiro. Nessa história não há espaço para os amigos. A grande questão do filme fica bem clara e preferivelmente, sem respostas. Até que ponto a amizade existe? Sem os amigos para confiar, o que fazer? Tê-los e não confiar, o que fazer? A cova não é funda o bastante e em certo momento ela transborda. E podem acreditar...não há espaço para os amigos. Danny Boyle começou com tudo isso e se fez um nome respeitado no Cinema. Ainda não cometeu nenhum deslize muito relevante, talvez chegou perto em Sunshine, mas mostrou que sabia o que estava fazendo. Não posso dizer o mesmo sobre Uma vida menos ordinária, pois ainda não vi. A Praia é a ferida delicada que aos poucos é apagada (também não posso falar muito, vi há tempos e nem mesmo conhecia Boyle). Sobre Cova Rasa, mais nada a falar. Não quero tirar a imprevisibilidade da obra. No mais, um ótimo começo na carreira de um cineasta que ainda vai fazer muito.

8 comentários:

Otavio Almeida disse...

É um belo filme! O Danny Boyle começou bem. Ainda fez TRAINSPOTING... Mas depois destrambelhou...

Abs!

Anônimo disse...

Brilhante filme. Imprevisível, preciso e divertido. Ótimo cinema. Boyle é um cineasta que admiro, sendo sua única mancada o equívocado A Praia.

****

Ciao!

Unknown disse...

De fato, um grande filme! Um mimo. Boyle praticamente reanimou o cinema britânico.

Abs.

Wiliam Domingos disse...

Otavio: Destrambelhou...acho que o verbo está em um tempo que ainda não mudou! rsrsrs
Ele pode ter desequilibrado ali, lá...mas está mais firme do que nunca!

Wally - É o que dizem mesmo...A Praia é seu problema!

Vulgo Dudu - Trainspotting comprova esta reanimação...

Ronald Perrone disse...

Cova Rasa é mesmo um ótimo suspense... e concordo que ele deu uma caída há alguns anos, mas Sunshine tá aí pra provar que o Boyle ainda é um dos grandes diretores dessa geração.

Gustavo H.R. disse...

Deve mesmo ser uma obra de qualidade, já que não deixa de ser recomendada em todas as matérias sobre filmes de Dany Boyle. A premissa, ao menos, desperta o interesse.
Enfim, mais uma recomendação anotada!

Alexsandro Vasconcelos disse...

O que me vem a cabeça quando ouço o nome Boyle é A Praia. Me dá logo um calafrio. =S

Quanto a Cova Rasa, apesar de indicações de amigos e parentes, ainda não assisti. Não tem na locadora daqui (pra variar) e não passa na tv de jeito nenhum (ou pelo menos não coincide com a hora que eu assisto). Lendo seu texto agora fiquei bastante entusiasmado e vou procurar pelo menos uns vídeos. As atuações do McGregor são sempre um show à parte e essa eu não quero ficar sem ver.

Abraço

Romeika disse...

Nossa, faz tanto tempo que vi esse filme, muito tempo mesmo. Lembro do impacto que o humor negro teve sobre mim, mas não guardei muitas recordações, ao contrário de "Trainspotting", cujas cenas impactantes até hj permanecem comigo. Gostaria de revê-lo para interpretá-lo melhor, além do superficial e do simples entretenimento. Não vi o recente "Sunshine", mas considerando os filmes do diretor após esse início impactante, penso que ele acabou deixando o seu estilo de lado.