30.7.08

...ama-me um pouco mais - Les Chansons d'amour

O começo é belo, de fato. O diretor Christophe Honoré com muita simplicidade expõe o cotidiano dos parisienses de maneira quase inédita no Cinema. Paris é mostrada naturalmente, sem o cultivo intenso do fetiche amoroso que a cidade possui. O comércio, o trânsito de carros e pessoas comuns, um morador de rua dormindo na calçada...quando entra em cena a bela Jeanne (Ludivine Sagnier); e a primeira parte é anunciada na tela: "A Partida".
São nesses minutos iniciais que o clima musical moderno surgi com naturalidade e leveza, a musicalidade sendo o motor narrativo de casos de amor, cíumes e perdas. Um triângulo amoroso incerto e limitado é proposto, mas sem causar impacto algum. O relacionamento entre Ismael (Louis Garrel) e Jeanne tem como auxílio a presença da bissexual Alice (Clotilde Hesme), companheira de trabalho de Ismael. Como já disse, é uma relação incerta e desconhecida já que o trio é apresentado formado e logo uma fatalidade muda o rumo de tudo. Essa estranheza inicial é compensada por uma boa dose de diálogos sobre não-sexo, romantismo e relação a três, seguida de interpretações inusitadas de Louis Garrel em um almoço na casa da namorada, Jeanne. A família é um personagem quase único, mostrado com muita despretensão e sem muita profundidade. E é isto que acaba caracterizando o filme de Honoré: falta de profundidade. As canções por mais belas e entusiasmadas que sejam (uma ou outra meio bobinha, em um contexto dispensável) não deveriam ser a salvação do filme. É a sensação que ficou para mim, pois só é plausível a profundidade que os personagens ganham quando estão cantando. Mérito para as canções que de piegas não tem nada, mas o problema é acompanhá-las a ponto da satisfação ser a merecida. Sem a parte musical, o filme não existira. Seria vazio e bobo.
O que me incomodou talvez é que Honoré parece ter desperdiçado muitos personagens interessantes, não há um cuidado muito especial com eles. Os diálogos mais ricos vão desaparecendo a partir da segunda parte do filme e caminha para um descuido ainda maior, com excessão das canções. Um desastre seria impossível ocorrer mesmo sem a presença de Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet), que surgi pelo final da segunda parte, mas é evidente a força que o filme ganha com a presença desse personagem. Erwann mostra-se interessado por Ismael, mas é tudo especulação a princípio. Inexiste expressões como bissexual ou gay, o relacionamente que vai se formando entre os dois jovens vai além dessas denominações, algo como refúgio e solidão consolada que evolui aos poucos para algo maior ou não. De repente percebe-se que o foco é esse relacionamente entre os dois jovens, os outros personagens vão sendo soterrados cada vez mais, com intervenções mínimas. Até mesmo Alice se perde na trama. É inegável que o desfecho é tido como consequência também das ações desses personagens "esnobados".
Um desfecho bonito, cativante e frio. Um certo ar de redenção fica, mas a sinceridade é mais forte a ponto de torna convincente. Ainda não vi Dans Paris também de Christophe Honoré, mas o cineasta ainda precisa se adequar melhor com tratamento de roteiro e personagem. A direção não é extravagante, mas é exatamente esse o atrativo para o gênero musical moderno muito bem orquestrado neste aspecto. Canções de amor encanta, distrái e inova em muito. Mesmo assim, vão 3 estrelas e meia.

15 comentários:

Wiliam Domingos disse...

Acho que ninguem tem dúvida, mas esclarecendo! O filme é francês...
hasusahusah

Museu do Cinema disse...

Bom, não vi esse, já tinha lido uma crítica positivissima sobre, mas me parece que essa sua crítica tá mais ou menos equilibrada.

Só ainda 'não encontrei para ver!

Ah, valeu pelo link, vou linkar o Eco lá no Museu.

Anônimo disse...

Gosto muito do Louis Garrel. Acho que ele é um bom ator. Não conhecia o filme, mas achei interessante você ter mencionado os pontos fracos da obra, mesmo tendo gostado bastante dela.

Romulo Perrone disse...

É, esse filme eu nao conheço, mas quem sabe um dia, verei com o maior prazer....
talvez seja mais um filme a ser comentando no cine carranca! hehehe.

E um dia te mostrarei a lista dos meus 10 melhores filmes, para matar sua curiosidade...

=)

Anônimo disse...

Outro filme que fiquei interessado após ler seu texto. Seu blog é ótimo para conhecer estas pequenas pérolas.

Ciao!

Rafael Carvalho disse...

Também já ouvi falar muito bem desse filme, inclusive porque ele é o diretor de Em Paris, um filme do qual amo.

Já esse Canções de Amor tô esperando um tempinho de maior folga entre os filme (tem muita coisa aqui para eu ver), mas logo estarei assistindo. E o elenco parece muito bom. Gosto muito do Garrel e principelmente da Ludvine Sagnier.

Unknown disse...

Cara, o que eu te digo é veja Em Paris! É sensacional! É um roteiro maravilhosamente bem trabalhado, com personagens muito bem pensados. Enfim, deve ser melhor que Canções de amor...

Abs!

Wiliam Domingos disse...

Pois é pessoal,
preciso ver Em Paris e talvez eu mude de opinião! Mas definitivamente, Canções de Amor não tem personagens bem trabalhados e passa meio "vagamente". Mesmo assim, não deixem de assistir pois valhe a pena.
Abraçoo

Anônimo disse...

Acho Louis Garrel ótimo, mas ainda não vi esse filme. Vou dar uma procurada, estou em falta com o cinema francês.

Cine Ôba! disse...

Não vi o filme ainda, mas duas coisas me deixaram com vontade de vê-lo: O fato de ser Francês, e esta resenha...

Abraço

Gustavo Madruga

PS: Cine Ôba! está de volta!!!

Alyson Santos disse...

E eu que achava que no meu Blog tinha muitos filmes "exóticos". Ta ai, não sou o unico a tentar fornecer umas pérolas escondidas pelo mundo do cinema, e esse eu vou procurar.

Abraços!

Anônimo disse...

Aê caras, passando pra avisar que tá rolando um especial James Dean no Multiplot!. 32 textos, de 9 a 30 de setembro, sobre como a juventude vem sendo abordada através das décadas, sobre outros jovens talentos mortos prematuramente e, é claro, sobre o eterno rebelde sem causa. Tá só começando, Passem lá!

http://multiplot.wordpress.com/2008/09/09/especial-james-dean/

Um abraço!

Museu do Cinema disse...

É a segunda pessoa que elogia esse filme, quero ver!

Rafael Carvalho disse...

Ei Wiliam, tu sumiu hein cara. VI agora há pouco esse Canções de Amor e gostei muito, não tanto quanto Em Paris, mas é um ótimo filme. Os números musicais são de uma simplicidade contagiante. Louis Garrel, Ludvine Sagnier e Clotilde Hesme (linda) cantado nas ruas de Paris é algo de deixar qualquer um com um sorrisão no rosto. Devo escrever alguma coisinha sobre ele.

Anônimo disse...

"Canções de Amor" (FRA; 2007; de Honoré) é um filme muito lindão, as músicas muito sensíveis e a maioria são tristes ou melhor, melancólicas. A canção do inicio (a primeira; alegre) e a que embala a primeira relação gay do personagem liberto(Ismael) às coisas do mundo são as mais bonitas, perturbadoras e por isso nos envolvemos existencialmente com essa película. As interpretações carregam com qualidade o filme, destacando a primeira entrada (pés) e permanência do ator Leprince-Ringuet - perfeito, ator minucioso e que convence junto com Garrel. Mas eu amo a presença de La Sagnier - uma deusa num é? Ass: Hiran Pinel, UFES, Vitória, ES.